
14.04.2025
Nunca tinha feito uma mandala. Pelo menos não daquelas com intenção declarada de ser uma mandala, com propósito e significado.
Talvez já tenha criado algo harmônico antes, com apelo estético, digno de moldura ou elogios.
Mas desta vez foi diferente.
Desta vez, tinha a Ana. Sim, a Ana, a arteterapeuta que me acompanha nas sessões, que escuta com a alma e provoca com delicadeza. Ela tinha separado algo especial para nosso segundo encontro.
Quando o link para a sessão online chegou, não veio com a ansiedade da estreia, e sim, acompanhado de uma vontade sincera de desbravar o desconhecido que antes, me causou medo.
Algo dentro de mim já não resistia tanto. Não sei se era o impacto da imagem do coração encaixotado (tema da primeira sessão) ou a lembrança fresca da aula da pós-graduação em Arteterapia, sobre a qual, prometo, falarei em outro post, mas eu parecia um caminhão desgovernado na descida, imagina o estrago.
Ainda bem que eu estava segura pelo setting terapêutico. A estrutura me protegia dos meus próprios excessos.
Iniciei a sessão tentando explicar o porquê de ser quem sou. Justificar atitudes, tentar dar sentido para minhas inquietações e explicar um pouco da minha ansiedade. Mas entre tantas justificativas, me pergunte:
— justificar para quem, exatamente?
Logo em seguida, continuei misturando vários temas: o rigor da minha criação, as dificuldades da alfabetização, as notas medianas, a escolha por uma faculdade prática que me distanciasse da leitura e da escrita, e, mais tarde, a paixão pelos livros que chegou como redenção. E também, o desencanto com quem deveria ter incentivado meu mergulho no mundo das palavras.
Essa avalanche de sentimentos encontrou descanso quando Ana disse, com sua voz gentil:
— Escolha um material. Pode ser tinta, lápis, colagem. Faça algo que te represente A única regra: se limitar a um círculo. Só isso. O resto é seu.
Parei, respirei, olhei para minha caixa de ferramentas, linda e cheia de possibilidades, e diante de tantas opções, escolhi apenas seis canetinhas de cores vivas e básicas.
Nesse momento eu paralisei e me perguntei:
— Como começar uma mandala sem saber como se faz uma mandala? Como colocar no papel algo que me representasse?
Comecei pelo contorno, uma caneta preta, fina e permanente. Sem volta. Desenhei sem técnica, sem simetria, sem filtro.
E então pintei. Cores vibrantes, aleatórias.
Tudo muito vivo, e, ainda assim, feia e desagradável.
Me incomodou. Aquilo não me representava… ou talvez representasse mais do que eu gostaria.
Entre lágrimas, entendi: aquela era, sim, a minha mandala. A representação da minha vida naquele exato momento. Se eu a achava dissonante ou até agressiva, era porque estava me vendo de forma nua e crua.
Eu precisava acolher isso. Com empatia. Com cuidado. Com amor.
Terminei a sessão em silêncio, mas com uma gratidão imensa. Por ter me revelado. Por ter vivido uma intimidade comigo mesma que há tempos não sentia. E com um desafio: redesenhar minha mandala.
Aos poucos. Com propósito. Não para agradar. Mas para me enxergar.