
22.03.2025
Era um sábado como tantos outros, o tipo de sábado que começa com a promessa de “vou só ouvir, observar, sem grandes abalos” e termina com você se perguntando se deveria ter levado lenço, aspirina ou incenso.
Dia 22 de março de 2025. Primeira aula do curso de formação em Psicologia Junguiana no IJEP Brasília. Aula magna com ninguém menos que Dr. Waldemar Magaldi Filho — um currículo de respeito, desses que dá vontade de imprimir só para lembrar à nossa sombra que ainda temos muito chão pela frente.
Confesso. Entre o entusiasmo legítimo e uma pontinha de “será que eu dou conta? ”, sentei-me naquele auditório com o coração dividido entre o desejo de transcendência e a pura e honesta vontade de sumir discretamente pela porta lateral.
Mas a arte da jornada começa assim: com o ego esperneando e a alma soprando “vai”.
Logo nas primeiras palavras, o professor nos convocou a um mergulho profundo. Nada de raso, nada de introdutório.
O tom era claro: integração entre o bom, o belo e o verdadeiro, mas não num cartaz de sala de espera, e sim no território complexo do nosso próprio cérebro, onde a biologia dança com o espírito sob a regência das angústias mais íntimas.
Falamos sobre a miserabilidade egoísta da massa autômata — e, entre uma risada nervosa e outra, foi inevitável o pensamento: “será que a tal massa autômata sou eu vivendo o dia a dia?”
Porque, sejamos sinceras, todas já fizemos morada naquele lugar anestesiado onde é mais fácil repetir do que refletir.
Mas foi a citação de Jung que realmente me atravessou:
“Queremos que nossa vida seja simples, segura e tranquila… mas as certezas só nascem da dúvida, e os resultados só vêm dos experimentos.”
Pois bem. Cá estou, em pleno experimento.
Um misto de esperança e vulnerabilidade, de quem entendeu (na teoria e, com sorte, na prática) que ampliar a consciência exige deixar para trás os confortos infantis da ilusão de controle.
Jung não veio pra brincar. E eu, sinceramente, também não.
A jornada do analista não começa quando a gente acha que sabe. Começa exatamente quando admitimos que não sabemos, e mesmo assim seguimos.
É o tal desprendimento que exige mais coragem do que diplomas. É dizer adeus à ideia de que há fórmula pronta, método seguro, resposta rápida. Porque não há.
O que há são símbolos, sonhos, sombras, máscaras, dores e lampejos de sentido no meio da noite escura da alma.
A aula terminou, mas o pensamento seguiu. A cada passo para fora do IJEP, eu sentia como se algo tivesse sido escovado em mim. Não arrancado — seria violento demais. Mas tocado, despertado, realinhado.
E assim começa a minha jornada:
com mais perguntas do que respostas, mais sensações do que certezas, e uma intuição insistente de que estou exatamente onde deveria estar — mesmo quando tudo dentro de mim sussurra o contrário.
Porque, no fim das contas, como toda mulher que já sobreviveu à própria profundidade sabe:
às vezes, o verdadeiro começo não começa quando estamos prontas. Começa quando decidimos não mais fugir de quem realmente somos.