
08.04.2025
Era uma manhã nublada, com aquele cheiro de cidade que mistura concreto, fritura e a promessa de alguma descoberta.
Meu destino: a 25 de Março.
Missão do dia: comprar os materiais para a primeira aula da pós-graduação em arteterapia e psicoterapia junguiana.
Desci na estação São Bento com o coração um pouco apertado — o tipo de emoção que só surge quando estamos à beira de um recomeço. As escadas rolantes me empurraram de volta à superfície, e, num sopro, fui engolida pela multidão.
A 25 é um mundo à parte. Um organismo vivo, pulsante, onde o caos se encontra com a beleza. Pessoas de todos os cantos, sotaques, cores e ritmos disputam espaço entre camelôs, sacolas gigantes, ambulantes com suas caixas de som e turistas com olhos arregalados.
Enquanto caminhava, vi uma senhora com uma lista amassada na mão e os olhos atentos aos preços. Um pai com a filha pequena no colo, tentando equilibrar brinquedos e sonhos. Uma adolescente com brilho nos olhos experimentando pulseiras coloridas — talvez imaginando um novo estilo, uma nova fase.
E eu, ali no meio, com minha mochila nas costas, observando tudo como se fosse parte de uma instalação viva, em que cada um representa uma história prestes a se desenrolar.
Fui guiada por uma mistura de intuição e mapas de celular até encontrar a loja de materiais artísticos. E quando entrei, tudo mudou.
Era como se eu tivesse cruzado um portal.
As prateleiras coloridas me acolheram com lápis de cor em degradê, papéis texturizados, pincéis de todos os tamanhos, tintas acrílicas, guaches, aquarelas, blocos de desenho, canetinhas, colas, tesouras e cadernos de capa kraft. A luz parecia mais suave ali dentro. A vendedora me recebeu com um sorriso tímido, mas solícito — como se também soubesse que eu estava escolhendo mais do que materiais. Eu estava escolhendo ferramentas de expressão.
Peguei um caderno de folhas grossas e toquei o papel com delicadeza, imaginando os traços, as cores, os silêncios que ali ganhariam forma.
Escolhi uma caixa de lápis de cor com 48 tons — porque 24 pareciam insuficientes para o que viria.
Incluí um estojo de canetinhas finas, marcadores, uma caixa de giz pastel seco e uma pasta azul para guardar os trabalhos.
Senti uma alegria doce me invadir. Era como montar o enxoval de uma nova vida. Um ritual de passagem para algo que, mesmo sem saber onde vai dar, já pulsa com sentido.
Paguei as compras com uma mistura de euforia e cuidado. Organizei tudo na mochila e, ao sair da loja, fui tomada por uma vontade enorme de começar.
Na volta, caminhei mais devagar.
O barulho da rua continuava intenso, mas dentro de mim havia silêncio.
Um silêncio bom.
Aquele que vem quando a gente sabe que está exatamente onde precisa estar.
E eu sabia.
Ali, entre o concreto de São Paulo e o brilho dos lápis de cor, começava minha travessia rumo ao que sempre me chamou: a arte de cuidar, de escutar, de transformar.