
31.05.2025
Tem dias em que “tá tudo bem” é só uma legenda automática — dessas que a gente escreve no rosto com corretivo, café e um leve tom de ironia. O corpo dói, o humor oscila, a alma grita em caps lock… mas seguimos. Porque parecer bem virou um tipo de obrigação estética. E, convenhamos, mulher exausta que admite que está exausta ainda é vista como fraca. Ou pior: dramática.
A gente não pode desmoronar. Mas pode retocar o rímel e continuar. Afinal, existe uma glamorização torta em ser “a forte”. Aquela que dá conta de tudo, que resolve, que inspira, que sorri mesmo com o mundo desabando no último andar da cabeça.
E aí, dia após dia, a performance se repete:
Sorriso no rosto.
Resiliência no crachá.
Olheira emocional disfarçada de filtro.
E aquele “não se preocupe, eu resolvo” que sai automático — mesmo quando tudo o que você queria era uma cama, silêncio e talvez um pouco de colo (sem ter que explicar o porquê).
O problema é que esse show, por mais bem ensaiado que seja, cobra caro. Porque manter a aparência de que está tudo certo quando claramente não está é um dos trabalhos mais cansativos do mundo. Um cargo não remunerado, com expediente integral e zero reconhecimento.
E ninguém te avisa que essa exaustão acumulada — essa que não passa nem com sono nem com spa — é o corpo tentando dizer o que a boca não conseguiu: “eu não estou bem”. E tudo bem não estar bem. O difícil é convencer o resto do mundo (e a si mesma) disso.
Na arteterapia, descobri um lugar onde não é preciso parecer nada. Nem funcional, nem forte, nem pronta. Ali, podemos ser caos em aquarela, incerteza em colagem, angústia em tinta guache. Porque o papel não exige coerência, só presença. E estar presente em si, sem precisar fingir que está tudo bem, já é libertador o suficiente.
Aliás, existe uma diferença abismal entre força e repressão. Ser forte não é engolir o choro no banheiro e voltar para a reunião como se fosse Miss Simpatia. Ser forte, às vezes, é admitir que você está no seu limite. É dizer “não aguento”, sem culpa. É parar — antes que o corpo faça isso por você.
E, veja bem, não se trata de abandonar tudo e fugir para Bali (embora a ideia tenha lá seu apelo). Trata-se de reconhecer que a alma também adoece de tanto esperar sua vez. De tanto assistir, da plateia, a vida de todo mundo enquanto a sua fica no piloto automático, tocando musiquinha de elevador.
Então, se hoje você acordou cansada, mesmo depois de oito horas de sono (ou de três — sem julgamentos), saiba que você não está só. Existe um exército silencioso de mulheres carregando o peso de parecer bem. A diferença é que, aqui, nesse espaço entre mulheres, a gente pode deixar esse peso um pouco de lado. Tirar os sapatos. E sentar, nem que seja por cinco minutos, para se ouvir de verdade.
Não porque temos tempo. Mas porque, se não fizermos isso, vamos continuar vivendo pela metade — lindas por fora e fragmentadas por dentro.
E não há filtro, nem maquiagem, nem elogio que compense o preço de se perder de si.