
09.04.2025
Eu não sabia exatamente o que esperar da minha primeira sessão com a Ana.
Era tudo novo para mim: a terapeuta, o método, a proposta. Minha estreia não era apenas como paciente, mas também como estudante de arteterapia e psicologia junguiana, mas até ali, ainda não tinha me permitido viver o processo na própria pele.
Organizei tudo com cuidado: computador, caderno, lápis de cor. Era uma preparação silenciosa, quase ritualística, como quem sabe que está prestes a entrar em território sagrado.
Quando o link da sessão chegou pelo WhatsApp, sim, as sessões seriam online (e, acredite, funcionam surpreendentemente bem!), senti o coração acelerar. Era agora. Sem escapatória.
Depois de anos adiando, chegou o momento de me encarar. De me revelar, de me despir emocionalmente diante de alguém.
Ana começou com uma respiração guiada. Sua voz tranquila e firme me conduziu de volta ao corpo, à presença, ao agora. Senti o peso nos ombros ceder, o barulho interno silenciar. A mente, o corpo e o coração, aos poucos, começaram a se alinhar.
Veio então uma breve conversa, um início de anamnese, como ela chamou, que, para minha surpresa, fez emergir um desabafo, e palavras vieram como um rio que já estava represado há tempo demais.
O processo seguia calmo quando ela propôs: — Vamos pegar o caderno e os lápis de cor?
Era hora de desenhar, de deixar que a intuição guiasse o traço, sem julgamentos ou metas. Mas bastou a sugestão para um aperto se formar no peito. Um desconforto profundo. Como se eu estivesse encurralada por vozes antigas que sempre ditaram o que era permitido sentir, fazer ou expressar.
Mesmo assim, desenhei.
O que surgiu foi um coração guardado dentro de uma caixa preta, sem tampa, com interior amarelo. Um símbolo forte, vindo do inconsciente, apontando para um coração que está ali, presente, mas contido. Um coração que quer respirar.
O choro veio. Molhou o papel, lavou a alma. Revelou uma angústia que há pelo menos seis meses se manifestava no corpo, em forma de refluxo, porque sim, o corpo sempre encontra um jeito de contar a história que a mente evita narrar.
Ao observar o desenho com calma, tudo começou a ganhar sentido. O preto da caixa: proteção, camuflagem, defesa contra olhares e críticas. O amarelo dentro dela: leveza, inteligência, uma luz sutil que insiste em existir mesmo no confinamento.
O coração vermelho: desejo, paixão, amor, mas também raiva, impulso e um grito de liberdade.
Naquela caixa sem tampa, vi a primeira possibilidade de saída. Vi um caminho. E naquele simples exercício, compreendi que algo havia começado a se mover.
Minha primeira sessão de arteterapia se transformou no primeiro passo de uma jornada de autoconhecimento e cura.
Porque às vezes, tudo que a gente precisa é de papel, cor e um olhar gentil para começar a se ouvir de verdade.